Eu ainda seguro o último fio de suas digitais em minha memória.
Eu ainda preservo o último minuto. Ainda vivo o último beijo.
Me alimento das suas doces palavras insuportavelmente amargas na minha saliva.
Todo dia. Sem que ninguém saiba. Te espio em pensamento.
Sou porta-voz da saudade.
Sou caixa abarrotada de futuros, revestida de passados.
Sou a prova da ineficiência do poeta e o amor.
Eu sou a saudade invadindo os olhos, inundando açudes desconhecidos.
Sou o espaço entre dois abraços.
O instante anterior de dois olhos apaixonados.
Sou a cama feita.
O cabelo arrumado.
A xícara vazia e o pão dormido.
Sou o lugar que você ocupou.
Sou o porta retrato.
Sou o passado amador.
Eu sou o amor sem nunca ter amado.
- Mas agradeço a ti. Pois é a quem devo meus versos (amar)gos -
Cuspindo sapos - Meus pensamentos.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Despretenciosa tarde.
Andava a caminho de casa, numa tarde nublada, quando comecei a reparar o caminhar das pessoas. Todo seu movimento com os pés. Do ritmo, ao momento em que um saia do chão, e outro chegava a superfície. Sem fazer ideia da onde aqueles passos mentais me levariam, apenas procurei segui-los.
Foi quando, depois de algum tempo com a cabeça baixa, focada nos inúmeros pés pacatos pela tarde nublada, ergui a cabeça, e tudo estava diferente do minuto anterior.
Não sei que lapso neurológico ocorreu, mas só conseguia ver as pessoas de outra perspectiva. Eu as via caminhando, sim. Porém umas caminhavam para trás como carros manobrando de ré, outras para o lado, feito siris. Embora, no fio de razão que restava, eu soubesse que todas estavam como antes, seguindo reto para o seu determinado rumo.
Estranhei tal inovadora percepção e por um momento acreditei realmente estar louca, também pensei; estaria Deus divertindo-se apertando o REC, o Play ou acelerando as cenas? (Descartando a primeira possibilidade, visto esta jaz me acompanhar) Mergulhei nua á reflexão.
Sendo assim, para que direção então, estava eu naquele momento? Estaria realmente indo para aonde os meus pés pronunciavam-se ?
Me dei conta.
Não. Não estava.
Eu estava exatamente há uma semana antes quando te conheci. Estava também há dois dias atrás quando parada de frente ao teclado, chorei, me angustiei, por não conseguir mais transpor minhas ideias, meus sentimentos que transbordavam-se pelos poros, jurei achar que nunca mais conseguiria escrever. Depois caminhei 10 minutos a frente quando chegaria em casa e mataria minha fome. Passeei pela infância por um segundo e corri 10 anos a frente sem luz.
Ergui a cabeça (foi quando tudo estava diferente). Ao avesso, talvez do avesso do avesso. Passado, presente, futuro. Todos explicitamente refletidos nos corpos, inclusive o meu.
No entanto, continuava a andar por razões incoerentes no momento. Para aonde eu ia, não era para aonde queria ir, onde eu estava não era exatamente aonde deveria estar. Contudo, o fluxo da contrariedade não parava.
Desejei ser um rio, livre, que saboreia as pedras, que permeia o leve e o espesso.
Desejei ser...Mas a mente programada não me ensinou os passos da vontade. O registro da rotina, evoca sempre um objetivo.
Lembrei do meu atual angustioso processo de criação. Estagnara-se feito um rio seco de João Cabral e seu cão sem plumas. Com uma estrada por cima, engarrafada de palavras. Atalhos. Caminhos conhecidos. Assuntos determinados. Um ponto de partida e um ponto final. Caminhos retos, sem curvas, de passos predestinados e vontades sublimadas.
Simples reflexos da minha caminhada coesa com pés sufocados por sapatos gastos.
Talvez seja por isso que os artistas valorizem tanto sua arte e não a trocam por nenhum ofício. Pois quem a descobre no seu templo interior, se descobre infinito e encontra o grande tesouro procurado por muitos há milênios: A LIBERDADE.
Eu achei o meu mapa.
Agora começa a verdadeira caminhada....
Foi quando, depois de algum tempo com a cabeça baixa, focada nos inúmeros pés pacatos pela tarde nublada, ergui a cabeça, e tudo estava diferente do minuto anterior.
Não sei que lapso neurológico ocorreu, mas só conseguia ver as pessoas de outra perspectiva. Eu as via caminhando, sim. Porém umas caminhavam para trás como carros manobrando de ré, outras para o lado, feito siris. Embora, no fio de razão que restava, eu soubesse que todas estavam como antes, seguindo reto para o seu determinado rumo.
Estranhei tal inovadora percepção e por um momento acreditei realmente estar louca, também pensei; estaria Deus divertindo-se apertando o REC, o Play ou acelerando as cenas? (Descartando a primeira possibilidade, visto esta jaz me acompanhar) Mergulhei nua á reflexão.
Sendo assim, para que direção então, estava eu naquele momento? Estaria realmente indo para aonde os meus pés pronunciavam-se ?
Me dei conta.
Não. Não estava.
Eu estava exatamente há uma semana antes quando te conheci. Estava também há dois dias atrás quando parada de frente ao teclado, chorei, me angustiei, por não conseguir mais transpor minhas ideias, meus sentimentos que transbordavam-se pelos poros, jurei achar que nunca mais conseguiria escrever. Depois caminhei 10 minutos a frente quando chegaria em casa e mataria minha fome. Passeei pela infância por um segundo e corri 10 anos a frente sem luz.
Ergui a cabeça (foi quando tudo estava diferente). Ao avesso, talvez do avesso do avesso. Passado, presente, futuro. Todos explicitamente refletidos nos corpos, inclusive o meu.
No entanto, continuava a andar por razões incoerentes no momento. Para aonde eu ia, não era para aonde queria ir, onde eu estava não era exatamente aonde deveria estar. Contudo, o fluxo da contrariedade não parava.
Desejei ser um rio, livre, que saboreia as pedras, que permeia o leve e o espesso.
Desejei ser...Mas a mente programada não me ensinou os passos da vontade. O registro da rotina, evoca sempre um objetivo.
Lembrei do meu atual angustioso processo de criação. Estagnara-se feito um rio seco de João Cabral e seu cão sem plumas. Com uma estrada por cima, engarrafada de palavras. Atalhos. Caminhos conhecidos. Assuntos determinados. Um ponto de partida e um ponto final. Caminhos retos, sem curvas, de passos predestinados e vontades sublimadas.
Simples reflexos da minha caminhada coesa com pés sufocados por sapatos gastos.
Talvez seja por isso que os artistas valorizem tanto sua arte e não a trocam por nenhum ofício. Pois quem a descobre no seu templo interior, se descobre infinito e encontra o grande tesouro procurado por muitos há milênios: A LIBERDADE.
Eu achei o meu mapa.
Agora começa a verdadeira caminhada....
terça-feira, 9 de agosto de 2011
(Achados e Perdidos)
( Era um dia de manhã...)
Acordei sentindo uma saudade da saudade...
Resolvi então em um espasmo nostálgico revirar todas as minhas coisas guardadas.
Me surpreendi. Quando abri o armário tudo caíra em cima de mim. Era tanto entulho!
Sufocada, ainda me indaguei: Como coube tanto dentro de tão pouco?
Lembranças mofadas. Sonhos hibernados. Tanto em tão pouco.
Então, num súbito rompante comecei a arremessar tudo janela a fora. Tudo!
Fui ao poucos me desfazendo...
Roupas mofadas. Lembranças intactas. Amores enteiados. Promessas guardadas.
Assemelhava-se a um ritual. Enquanto seguia a partitura do meu anseio,
Me entregava a um ensaio nu aos passáros confabulantes nas árvores.
E seguindo sua orquestra sutil, continuava me desfazendo de tudo.
Fotos roubadas. Poesias enquadradas. Rimas anestésicas. Ponteiros. Gavetas. Calcinhas. Amores. Tudo!
Todos esvaindo-se junto a tarde.
Sentia meu corpo, então, despido de toneladas mentais... ficando leve...leve...
Por fim, dei-me por silenciosa a auscultar a entrada solene da noite.
Feito criança que se cansa da brincadeira, retomando a consciência e o folêgo, sentei-me num canto do quarto, jaz vazio, ocupado pela predominância de suas paredes brancas.
Mas senti uns olhos. Como quando a impressão de estar sendo observado.
E avistei, do outro lado da sala.
Uma gaveta. Isolada, inibida pelo espaço.
Me aproximei, certa de que seria meu último alívio janela a fora.
Certezas são tão prepotentes.
Como não lembrava! Claro! Ás vezes escondemos tão bem de nós mesmos que realmente esquecemos.
Mas engano foi achar que esconder seria sinonimo de superar.
E me vi ali, no meio do quarto, encharcada por lágrimas, ao ver sua foto dentro daquela gaveta.
Do que valeu-me desfazer de tudo se continuava ali sufocada? Impregnada de saudade. Impotente de quaisquer desfeita. Imersa em ti.
Aonde estavam os pássaros agora?
(Silêncio)
Fez-se dia, a noite em que joguei a mim pelo abismo, janela a fora.
Fez-se o encontro de mim -diriam os de bom senso- no insensato.
(Poeta retirando uma pena de sua asas e molhando-a em tinta, continua a escrever)
Neste dia descobri a leveza da saudade.
Hoje, sua foto continua lá na gaveta, dentro do quarto.
Acompanhada a tudo que numa tarde havia sido arremessado embora.
Porém, nunca mais precisei guardar nada, muito menos jogar tudo pelos ares. Apenas deixo a janela aberta.
Pois, assim como eu.
Tudo meu, criara...
Asas...
(Voa)
domingo, 26 de junho de 2011
Tributo ás palavras
Intrigante mensurar os parâmetros da morte. Estaria ela vinculada somente aos horizontes biológicos?
Não sei. Talvez. Mas sinto que minhas palavras possuem legítima vida.
São geradas por um tempo, depois maduras, se jogam no ar como pássaros livres no mundo e um dia se vão, esvaem-se, nem que seja a pé do ouvido mais próximo.
Porém trato-as tão delicadamente. Enfeito-as, acarinho-as, coloco-as para dormir, por vezes elas sentem medo de ficarem sós. E se por acaso apaixonarem-se deixo-as ir, correndo, felizes pelo campo, pois sabem que sempre ao final da tarde, estarei ao pé da porta á espera de resposta.
Mas ás vezes elas não voltam..
Hoje, esperei um minuto a mais antes de trancar a porta. Foi quando vi, ao longe, um homem, caminhando como quem traz chumbos nos pés, trazia minhas meninas no colo, que já não mais viviam.
Falecem todas as minhas palavras para ti...
Intrigante. Não entristeci. E olha, tratei de fazer um belo jardim com elas e um velório digno de sua memória em vida. Agora descansam merecidamente, pois fato, que estavam elas todas tão velhinhas...
Cansadas de tanto esperar.
Falecem hoje palavras.
Jazem pensamentos.
Um dia movimentos.
Porém, nascem descendentes felizes, geradas no mais belo jardim, onde dorme a memória viva que um dia foi dita.
É lindo o poder que as palavras tem de sintetizar mistérios em um sentido.
Não sei. Talvez. Mas sinto que minhas palavras possuem legítima vida.
São geradas por um tempo, depois maduras, se jogam no ar como pássaros livres no mundo e um dia se vão, esvaem-se, nem que seja a pé do ouvido mais próximo.
Porém trato-as tão delicadamente. Enfeito-as, acarinho-as, coloco-as para dormir, por vezes elas sentem medo de ficarem sós. E se por acaso apaixonarem-se deixo-as ir, correndo, felizes pelo campo, pois sabem que sempre ao final da tarde, estarei ao pé da porta á espera de resposta.
Mas ás vezes elas não voltam..
Hoje, esperei um minuto a mais antes de trancar a porta. Foi quando vi, ao longe, um homem, caminhando como quem traz chumbos nos pés, trazia minhas meninas no colo, que já não mais viviam.
Falecem todas as minhas palavras para ti...
Intrigante. Não entristeci. E olha, tratei de fazer um belo jardim com elas e um velório digno de sua memória em vida. Agora descansam merecidamente, pois fato, que estavam elas todas tão velhinhas...
Cansadas de tanto esperar.
Falecem hoje palavras.
Jazem pensamentos.
Um dia movimentos.
Porém, nascem descendentes felizes, geradas no mais belo jardim, onde dorme a memória viva que um dia foi dita.
É lindo o poder que as palavras tem de sintetizar mistérios em um sentido.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Simbiose Poética
Minha poesia quer ser incompreendida.
Quer ser incógnita. Indefinida.
Minhas palavras são concebidas.
Férteis filhas do ventre da minha alma.
Um parto de mim.
Ultimamente estive pensando muito nas palavras e a minha relação com elas..
Intrigante aceitar, mas elas já tem vida própria em mim, chego a arriscar dizer que possuímos uma espécie de simbiose poética. Preciso delas para viver e elas precisam da vida que as dou.
Como se meus dedos fossem seu oxigênio e nós, fizéssemos parte de um grande órgão, e de fato, acredito que isto não seja hipotético. Minhas palavras querem ser por si próprias, querem ser fora de mim, me usam para existir. Eu? Eu não ligo, não me importo. Eu gosto e deixo que elas me usem, me corrompam.
Toda essa relação me faz pensar muito a respeito do grande poeta e sobretudo apaixonado, Vinicius de Morais, poeta que fazia de suas palavras, pura paixão, puro fogo. Poeta que não tinha dimensão de quanto amava, mas hoje ao ler suas poesias, posso jurar que ele tenha morrido de amor. Foram tantas as paixões equivalentes a inúmeros relicários poéticos que me remeto á seguinte reflexão: Vinicius escrevia porque amava ou amava para escrever?
Não sei.
E talvez não queira mesmo esta resposta.
Pois com a minha relação com as palavras posso responder por mim...
...Eu escrevo e amo para amar.
De Repente
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Morais.
Esta pintura me chamou bastante atenção pelas suas cores, formas e beleza, é uma obra de um Grande amigo e Artista, Carlos Valença. Que está no blog: http://carlosvalenca-arteempalavraseimagens.blogspot.com/
sábado, 12 de março de 2011
Palavras em flores

Diante de um tão belo jardim,
Recolho meus derradeiros buquês de mato.
Esboço flores de plástico
Nas minhas mãos talhadas de verbos.
E entrego-lhes,
Como a inibida manhã cinza entrega-se.
E entrego-lhes,
Com a feita consciência da beleza imperfeita.
Ao menor poema
Por fascínio, aventura
é meu dever de poeta um canto épico, monumental.
O Brasil afinal...
Mas esse torpor...esse cansaço
essa letargia...enjôo
e a minha preguiça é tal, que..
Que tal um poema sem letra iniciado com ponto final?
Cézar de Araújo.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Azar no jogo, sorte no amor?

Outrora noutra vida não tão distante, eu fui um cassino. Sim, um cassino.
Nele como regra, apostava-se no mínimo todas as suas fichas e de garantia entregava-se as roupas do corpo e nu, sem alma por fim, apostava-se o coração.
É, eu fui um cassino daqueles cheios de brilho e sorriso grande, convidativo: "Seja Bem Vindo".
Cassino poderoso no qual jogos de amor eram a atração da casa.
E como todo bom cassino capitalista -que a redundância fale por mim- o visitante sempre tinha as primeiras vitórias, pois assim é a lógica.
Pois é, noutra vida fui um cassino.
E nesta manhã,
Nasce apenas um mero apostador, parado de frente a um sorriso viciante.
Um mero aposentado coração
Cheio de fichas na mão.
Maldito capitalismo.
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